Blog protegido: Art. 5º, X da CF/88 - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

sábado, 1 de outubro de 2011

Fita Vermelha

"Você devia ter me telefonado, como sempre fez. Eu entendo que dessa vez não seria como me avisar a hora de começar Dr. House, marcar o futebol de domingo, falar sobre games ou contar entusiasmado sobre a bela garota que acabou de sair daí. Não quero nunca mais ser o último a saber, prometa isso e não cometa mais erros como esse. O verdadeiro vírus é o preconceito.

O show recém está começando, mas eu já dispenso a maquiagem. Quero ver seu rosto como é, como sempre foi. Bastava me avisar, de um jeito ou de outro, meus tênis sempre rangem alegres na calçada que dá na sua companhia. Não importa quantas milhares de pessoas viraram estatística. Quem um dia você chamou de amigo, será sempre uma pessoa, nunca um número qualquer em registros hospitalares. Vou além, nem o sangue tão dessemelhante me impede de te chamar de irmão.

O envelope amassado na lixeira, parece apenas um papel sem importância. Teu nome no verso, infelizmente, não inspira nenhum poema. E a palavra "positivo" agora tem seu sentido brutalmente distorcido. Mas não reclame da quantidade de pílulas ou das mãos geladas. A maioria se enche delas com álcool e ainda assim não podem se dizer quentes e vivos. Até mesmo o fim às vezes erra e se atrasa, quero pensar assim.

Me inclua na sua lista de tarefas. Não conte aniversários, invernos, manchas, consultas ou dias de sol. Conte comigo, apenas. Deixe eu te abraçar sem medo. Ando bem antenado: é assim mesmo que se transmite carinho, força, confiança e fé. Eu queria muito te levar pela mão atrás de alguma cura, mas se for pra nos enganar, lamento, passou da hora. Só me resta trocar de assunto e mostrar bons motivos sorrir.

A vida é mesmo estranha, como uma corrida sem a fita vermelha indicando a chegada. Estamos juntos nessa, bebendo do mesmo copo. O que posso dizer? Palavras agora só servem pra compor uma boa oração. A gramática, assim como o tempo, não existe. Faz parte desse sonho que temos supostamente acordados. Quem sabe um dia você me ensina como sonhar com o hoje.

Pode ser pavor de que seja tarde, então prefiro esconder meu afeto. Fico quieto, assistindo alguma coisa na tevê do seu sofá, por muito mais que três semanas. E quando você se virar pra mim, com os lábios contraídos e horizontais, não quero ver brilho nenhum, se a lágrima for fúnebre. Apenas supra a incompetência da vida, me mostrando nos olhos o significado daquilo que chamam de luta."

Gabito Nunes

Coisa de momento

"Confesso que a música romântica me fez tirar a roupa mais facilmente, mesmo eu não sendo de pensar muito antes de fazer isso. As coisas que ficam fora do lugar dentro de mim, sou eu mesma quem bagunço. Você, eu deixo bagunçar somente os cabelos e minhas quinquilharias femininas no bidê, pra deixar registrada uma marca, uma música, um beijo e umas recomendações.

Era o trato. Não sou de meio-amores que machucam por inteiro, acho essa coisa de paixão uma monstruosidade. Esse afeto sem razão que cultivamos por alguém quase desconhecido é uma espécie de suicídio passional que dá anos de cadeia. Não gostaria de ser como aquela gente que arrasta corrente por tempo. E não sou morta por dentro, acontece que meu colorido só dura 24 horas, tal uma borboleta. Sou isso, uma espécie de heroína lepidóptera nascida pra inibir crimes passionais. Mas só à noite, o resto do tempo sou uma lagarta gosmenta.

As pessoas que se apaixonam tendem a olhar-se mais no espelho, sem enxergar sua patética e debilitante condição. Quando a coisa acontece mútua, vá lá, diversão garantida por um tempo biologicamente determinado. As rejeitadas são o brabo. Subvertem-se psicóticas, caninas, manipuladoras, chantagistas, insanas, mendigas, agonizantes, verdadeiros cães de rua que aceitam um dono qualquer, suspeitos de crimes cheios de rastros.

Se alguém já chegou lá, por gentileza, me diga se vale a pena tanto andar. Do contrário, continuarei julgando essa coisa de amor uma longa estrada de chão calorenta até uma paradisíaca praia, que leva tanto tanto tanto tempo até você alcançá-la. E quando você chega sedento por um mergulho, fez-se a noite, o mar fica revolto e gelado e suscetível e perigoso e descontrolado. Não me espanta a vida como é ela é, me incomoda a vida como ela deixa de ser, às vezes. Simples, prática, funcional, indolor. Mas são apenas convicções.

Agora essa melancolia, essa saudade, essa tristeza, essa nostalgia, não sei o nome, seja lá o que você quiser. O jeito engraçado de andar com aquelas roupas, mesmo eu não concordando com aquela sua camiseta vermelha, seus dedos encardidos de cigarro, sua risada às vezes meio crueis, as coisas que você diz por empolgação, completamente nu. Mesmo eu não concordando com nada de bom das coisas que já consigo enxergar em você. Você não sabe, mas meu superpoder é inventar homens na minha cabeça.

Acha mesmo que vou sair na rua só pra comprar o jornal do dia e consultar sua intenção de me ligar no horóscopo? O interessado não dá desculpas, dá um jeito. Quando essa hora chegar, o dia já se foi, meu signo já aconselhou a agulha do meu disco trocar de música: dorme e acorda amanhã, num novo dia. Faz de conta que é otimista ou que esse amor não significava nada. Se a maioria acha triste a sensação de estar esquecendo uma feição, pra mim é um alívio discordar.

Como não sei se verei seu rosto de novo, aquele papelzinho seu rabiscado no meu bidê, recomendando uma música pra ouvir, joguei no lixo antes de memorizar. Não me dou o direito de mergulhar assim tão fundo num admirável mundo que não me pertence. Mas se acaso você me procurar, não sei, pode ser, quem sabe passa hoje aqui pra devolver as coisas que são minhas - meus momentos bons."
Gabito Nunes

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Aceito devolção



"E esse do Djavan? Tá fazendo o quê aqui? Fora "Linha do Equador", eu nem gosto de Djavan. Achar o cara charmosão não significa gostar das músicas a ponto de pedir um CD emprestado. Esses tênis com as meias amarrotadas dentro. Ficaram no meu caminho porquê? Exceto de mim, da minha pele assustadoramente sempre cálida, você não é exatamente uma corredora.

Essa marca registrada no vidro do meu box, de toda vez que você desembaçava com a mão em movimentos cilíndricos pra ver o que eu estava fazendo na pia, como sai? Que produto uso pra eliminar pistas suas? Rivotril, chumbinho, destilados? Em que momento, segundo, restaurante ou beijo em público você se sentiu à vontade pra estocar mini blusas no meu armário apertado?

Fica bom requentar esse café? Posso recolocar a mesa de centro na vertical? Mando também esses vestígios de xampu anti-friss? Depois de qual transa se sentiu livre pra deixar badulaques, anéis, grampos e brincos prateados no meu cinzeiro da sala? Minha camisa do "Let It Be" furada no sovaco esquerdo que você usava sempre pra dormir, faz questão?

Os farelos de biscoito integral que você consumia na solidão da minha cama enquanto eu trabalhava. É só sacudir? As tardes de romance que você passou sem roupa nos meus braços e as manhãs impróprias que te mastiguei, misturando meu tédio no teu sangue morno. Vai apagar quando? Quando você retornou das férias do universo? Que dia eu parei de chover hortelã em você?

Eu não vi passar o momento em que essa amizade colorida começou a transversar em paixão dolorida. Quando foi que você encontrou um lugar melhor que aqui pra largar tuas tralhas e teus anseios pelo chão? Em que fotos, varais e ombros estão estendidos agora teus planos adolescentes? Encaixoto tudo e mando pra onde? E você, volta quando? Também aceito devolução."

Gabito Nunes : SHOW!

domingo, 25 de setembro de 2011

Não quero perder nada




" ... Não vou dizer que é tudo mágico. Mas eu também não quero perder nada. Você vai argumentar com alguém com todos aqueles trejeitos engraçados e quero estar lá pra rir. Vai roçar com a ponta de todos os dedos a barba mal feita no gogó e eu quero estar lá pra implicar. Eu quero protestar quando seus pratos não seguem a receita que achei na internet. Tem sempre um filme na tevê que ainda não passou.

Não sei se é apego ou porque minha vontade de saber o que você vai me aprontar amanhã nunca cessa. Tem sempre algo que a gente sonhou fazer juntos e não quer deixar inacabado. Ninguém tira meia fotografia, ninguém viaja até a metade do caminho, não fica bem sair no meio de uma peça de teatro, ninguém telefona por meia pizza. Um trabalho não finalizado não é um trabalho.

Vai ter sempre algo. Uma roupa pra buscar, uma festa de aniversário de algum amigo em comum, um truque novo na cama, um episódio de estreia daqueles seriados que você me ensinou gostar, a doença da sua mãe. Essas pequenas coisas. De algo em algo, a gente vai levando.

As coisas que acabei de dizer, leve em consideração só até a meia-noite. Eu sempre tento virar a página sem grifar as partes importantes com alguma caneta de cor alarmante. Mesmo num amor de linhas tortas como o nosso, o fim parece um erro, como um ponto final no meio da frase."
Gabito Nunes

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A louca aqui de dentro




Apenas depois no caminho ensolarado de volta é que peno: que dizer agora, depois do drama todo? Que fazer então, depois de cruzar o shopping de ponta a ponta e não encontrar uma mísera sapatilha preta em couro e no meu numero? Quinze minutos no cinema, choro escaldando a maquiagem, ligações para amigas. A louca me tomou conta por minutos inconsequentes que deveriam ser de aconchego. Culpa, remorso, cuidado; que fique essa faceta descontrolada longe de mim, meu deus. 
Acontece quando seleciono "remoer" ou "relevar" ao invés de simplesmente "falar e ser direta aos poucos". Ou libertar, aos pouquinhos, essa minha mania em opinar deliberadamente no que quer que seja. Incansável, lá vai a louca que aqui dentro desperta ocasionalmente de todas as maneiras possíveis tentar expurgar a colheita vagarosa de resguardos, silêncios e maus-entendidos que engole de vez em quando, afim de parecer correta, decente, forte ou decidida. Incontrolável, deixa escapar um pouquinho - quem sabe no suor, pela saliva da fala, por meio da aura explanada - em cada gesto impensado, pergunta direta ou movimento fora do ritmo habitual e acomodado a que a vida (normal) deve seguir. Entre ser irônica, dramática ou obsessiva, acabo mesmo é - por minutos, segundos ou, no máximo, horas - enlouquecendo.
Insaciável, se entope das mais inexplicáveis neuras, dos mais desconexos pensamentos que vibram uma vez que outra sem aviso prévio ou recomendação. Insana, aparece quando menos deveria. Me atinge quando fraca de mim mesma, submersa em baixa autoestima e dias ruins seguidos um do outro. Nem camisa de força ou remédio tarja preta adormece essa terrorista por tempo suficiente. Vive nesse largo espacinho entre ser banal e tentar ser blasé, para sobreviver dentro da crueldade que a sociedade pede. Sem medo de altura, brinca de atirar do mais alto prédio da cidade meu denso e carregado coração, só para me ver aflita e medrosa, tamanha agonia. Minha parte alienada deseja companhia e pelos tremores dos órgãos, pelo frio na barriga, nota que feliz sou eu quando consigo ser tranquila: rodeada de gente que me gosta. Daí começa a plantar uma sementinha de que não, não pode estar tudo tão bem. Capaz que o curso dos acontecimentos seria assim, tão fantástico. Tem algo errado, e caso não fareje, ela o faz. Tá tudo uma droga de repente, porque comecei a notar coisas que nem existem e brotaram na minha cabeça - culpa da desvairada, saibam vocês.
Então, sentenciada, foge. Fico eu - comigo mesma - e um arrependimento em ser impulsiva no colo, pesado e inerte. Estática sob os escombros, repensando fatos e revisando falas para saber como começar a correção que a insensata fez, antes de se esconder novamente aqui dentro, perdida e pequenininha. Aguardando até que infle e me fuja do controle, para uma próxima vez deixar que jorre o rio de lágrimas de cada TPM (as duas se adoram, é incrível) ou a fúria tenaz de, teimosa, dar cabeças que mais tarde não adiantarão de nada. Nem mesmo eu que quando calma tenho sido um doce suporto tanta acidez inconsequente. Maior prova de amor do mundo: sobreviver em meio ao caos de quando eu desatino. Que bom que tem quem passe no teste.

Camila Paier
P.S: Definitivamente, essa guria escreve pra mim! Minhas amigas, com certeza, irão concordar kkkk

X O X O e BAZZINGAAAAAAAA

sábado, 10 de setembro de 2011

Namorado?



Perguntaram pra mim: "Por que eu não tenho namorado? Algo em mim repele os homens? Sou uma mulher embargada? Há uma placa de 'proibido estacionar' em minhas costas? Me diga!". Olha, eu não sei por que não tem namorado. Honestamente.

Poxa, come batata frita, torta de limão, churrasco e trufa de leite condensado. Ok, a alcunha de magricela, cabo de vassoura ou Olívia Palito nunca lhe serviram, talvez. Urros sobre sua suposta suculência não têm advindo de prédios em construção, quiçá. Quem sabe não fica bem de "tomara-que-caia", tropica no salto agulha, não combina numa minissaia. Mas desbanca a miss Venezuela num vestido primaveril, pisando numa rasteirinha prateada, com o cabelo preso naquele lápis cor-de-rosa, soprando a franja pra cima no calor. Não vai me acreditar, mas tu é bonita.

Tu passa longe de uma Fernanda Young, uma Lya Luft, uma Sandra Werneck. Mas tu é inteligente à sua maneira. Assiste novela, mas não comenta a vida dos personagens. Gosta da Clarice, da Cecília, da Martha. Curte o Tom, a Adriana, o Nando, a Zizi, o Cazuza. Trabalha, suspira, trabalha, checa as unhas, trabalha, sonha, trabalha, belisca uma água-e-sal, trabalha e um colega te olha. E te acha bonita idem. E também se intriga com tua solteirice.

Tem princípios iguais os da mãe. Mas se acha careta, às vezes. Não cede, mesmo só. Adora sexo, embora não faça com a mesma frequência do desejo. Se faz não vibra na mesma frequência que o parceiro. Sente raiva por ser secretamente boba, romântica e demodê. Se derrete mais rápido que o sorvete napolitano na xícara de sopão quando a mocinha diz "você me fez acordar com um sorrisão no meu rosto". Chora na frente de ninguém, ai de ti se mais alguém souber. E você não vê a hora de um príncipe encantado por ti libertar esse riso largo atrofiado, mas sabidamente bonito.

Tem suas esquisitices. Dorme de edredon e ventilador. Coleciona esmaltes. Cerra as pernas quando sentada e fica coçando o joelho com uma das mãos enquanto a outra segura a cabeça pelo queixo. Ensaia dança do ventre pro espelho do banheiro. Faz duas vezes antes de pensar e tem uns "nhe-nhe-nhê" de mulherzinha. Mas qual não tem? É até bem charmoso. Nada tão relevante quanto sua forma meiga e carinhosa de perguntar "tu tá bem?". Nada mais importante que teu ímpeto de cuidar dos outros. Nada que mude minha convicção de que tu é bonita.

O que te falta? Falta tu mesma se convencer do que te falo com certeza. Tu merece alguém que abra os olhos diariamente e pense: "cara, eu tô com ela, eu sou o namorado dela!". Que goste da tua boca, do teu ombro, do teu cabelo bagunçado, do teu calcanhar, da tua cintura, das tuas mãos, do cheiro da tua pele, das sardas do teu rosto. E isso vai acontecer naturalmente ao você se dar conta de que tu é bonita, no âmago e na lata. Eu acho, teu ginecologista também, o colega de trabalho assina embaixo. Um dia serás o amor da vida de alguém, do jeitinho que tu é. Falta tu. Acorde hoje e repita: "eu sou bonita".

Gabito Nunes

Postagem pras queridíssimas que visitam o blog e que se perguntam isso também: Namorado? Gente, para tudo é! Vai encucar com isso não hein: Somos lindas, isso é o que importa! kkkkkkk

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dizer o amor

Se você ama, diga que ama. Não tem essa de não precisar dizer porque o outro já sabe. Se sabe, maravilha, mas esse é um conhecimento que nunca está concluído. Pede inúmeras e ternas atualizações. Economizar amor é avareza. Coisa de quem funciona na frequência da escassez. De quem tem medo de gastar sentimento e lhe faltar depois. É terrível viver contando moedinhas de afeto. Há amor suficiente no universo. Pra todo mundo. Não perdemos quando damos: ganhamos junto. Quanto mais a gente faz o amor circular, mais amor a gente tem. Não é lorota. Basta sentir nas interações do dia-a-dia, esse nosso caderno de exercícios.

Se você ama, diga que ama. A gente pode sentir que é amado, mas sempre gosta de ouvir e ouvir e ouvir. É música de qualidade. Tão melodiosa, que muitas vezes, mesmo sem conseguir externar, sentimos uma vontade imensa de pedir: diz de novo? Dizer não dói, não arranca pedaço, requer poucas palavras e pode caber no intervalo entre uma inspiração e outra, sem brecha para se encontrar esconderijo na justificativa de falta de tempo. Sim, dizer, em alguns casos, pode exigir entendimentos prévios com o orgulho, com a bobagem do só-digo-se-o-outro-disser, com a coragem de dissolver uma camada e outra dessas defesas que a gente cria ao longo do caminho e quando percebe mais parecem uma muralha. Essas coisas que, no fim das contas, só servem para nos afastar da vida. De nós mesmos. Do amor.

Se você ama, diga que ama. Diga o seu conforto por saber que aquela vida e a sua vida se olham amorosamente e têm um lugar de encontro. Diga a sua gratidão. O seu contentamento. A festa que acontece em você toda vez que lembra que o outro existe. E se for muito difícil dizer com palavras, diga de outras maneiras que também possam ser ouvidas. Prepare surpresas. Borde delicadezas no tecido às vezes áspero das horas. Reinaugure gestos de companheirismo. Mas, não deixe para depois. Depois é um tempo sempre duvidoso. Depois é distante daqui. Depois é sei lá.
ANA JÁCOMO